sexta-feira, 5 de março de 2010
terça-feira, 2 de março de 2010
“Ilusão de Amor”
Vejo-a da janela mais alta, do castelo do seu marido condenado a morte, a espreitar como soubesse que me encontro dissolvido na chuva que caí, atrás da acácia centenária e enterrado na lama que alimenta aquelas silvas que ao pular o gradeamento rasgaram-me a pele, mas ela… ela rasgou-me o coração quando naquele anoitecer sereno no baile de gala olhou-me, e aí, sem lógica, sem preliminares, sem racionalidade e explicações tudo mudou.
Carolina Martins de Albuquerque, dama de alta sociedade herdeira dum grande espólio monetário mas acima de tudo educacional, casará com Francisco da Silva Mendes um sujeito pouco bem-parecido e que tinha o que queria devido ao dinheiro, como o tinha ninguém sabe, apenas sei que era como um vagabundo que vestia um fato castanho caqui e punha um chapéu de cuco, um homem sem modos e que apenas possui uma pérola como Carolina por ter conseguido iludir os pais dela a casar-se. O símbolo daquele casamento era para todos um ponto de interrogação assim como quem era este Francisco de baixa estrutura e aparentemente débil.
Ela sorria sempre que me via, um sorriso escondido mas que por entre daqueles longos cabelos castanhos cor de mel parecia uma brisa primaveril vinda dum jardim repleto de margaridas…
Num por do sol e numa praia tão escondida que ainda não sei bem onde fica tive com ela, e ao mesmo tempo que as ondas esculpiam as firmes escarpas com delicadeza e perfeição, eu esculpia com as minhas firmes mãos na sua redonda face um rosado tom na sua pele, um brilho nos olhos verde-esmeralda como que pingos de água cristalina caíssem naquelas duas jóias, e o mais importante de tudo, esculpia-lhe uma sede pela minha quente paixão, por aquele amor proibido e eloquente, um amor secreto ao qual tornei-me viciado. Naquele momento tudo era perfeito, o tempo parará, as andorinhas do mar ficaram imóveis assim como o ribombar das ondas e os moinhos de areia, Carolina deitada sobre o meu colo e eu sentado… tudo isto preso num quadro de aguarelas.
Foi uma verdadeira história de amor até que como tal teve um final trágico.
Eu atrás da acácia centenária não observo minha musa! -Ai Carolina o quanto recente o meu corpo e alma o teu ser divino! Eu debaixo desta tempestade imagino vê-la na janela mais alta do castelo do seu marido condenado a morte… condenado por toda a gente que o despreza e por tido morto minha donzela. Choro – Aí Meu Deus porque deste-me uma filha tua para depois me a tirares e fazeres-me cumprir o fim deste homem que tanto atormentou e matou Carolina com o mesmo descargo de consciência e paz com que vejo-o beber aquele vinho na janela dela…porquê eu? Porquê?
Entro pela porta dos fundos, deparo-me com uma casa escura, decorada de modo a parecer o palácio de Versalhes, de tal modo requintado com tapeçaria, quadros, loiças, etc. Todo a escorrer água e raiva começo a subir as escadas, sem forças, agarro-me no corrimão verde e frio com a mão esquerda, enquanto que com a mão direita mal seguro no machado…
Já no corredor do último piso com a luz do luar, vindo do quarto de meu anjo onde um demónio prospera, abro a porta que range, mas o desgraçado não se move, aproximo-me passo entre passo e com um resto de força levanto o machado e…
O machado trespassa-lhe o corpo e este desvanece no ar… -Mas o que é isto? Um espírito? A porta tranca-se, os estores da janela também, fico no quarto dela as escuras sem ninguém que me ouça… no escuro esquecido e a lembrar-me daqueles olhos verdes… os que me prenderam neste lugar que, quando caio por mim apercebo-me que não é no quarto de Carolina que me encontro trancado, mas sim nas recordações do amor dela.
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